Outros monges o chamavam Madiro Santo.
Naquela tarde, frente ao mosteiro
Sacudia um de seus únicos costumes, poeira
Sol descia, pela estrada vinha um vulto.
Era um senhor; de alaúde , de pés descalços.
"Água, meu bom monge?"
"Manja destas cordas, senhor?"
"Assim como da tua língua flui o bom latim."
"Então entra. Tens tua água. Toca algo, dorme aqui."
A dupla partiu pelos salões rochosos
Acomodaram-se em um belo quintal
Vários bancos, mesa, comida posta.
Saciados, o desafiador velho alaúde tocou
Tocou a sabedoria, o curioso do senhor:
Que é sede de beber, sem ter vontade?
Sem pensar porque lá está, nela nado ou dela bebo
Posso fruta comer, a semente plantar
Assistir nascer um vegetal sem perguntar
Sabendo que quem o criou fui eu, só eu e ele lá está."
Embora simulasse distração
Um inseto que corria em sua mão
Acompanhava com os olhos.
"Que é Deus para tu, Madiro?"
É o presente, será o futuro!
É o que empurra, o que freia
Tanto abraça como cospe.
E mesmo água e semente de tua trova
Em um passado os deu sentido
Já foi Deus, Carmelo, é certo, início."
Lentamente, o músico tira dos seus pertences
Livro espesso, velho, cruz na capa.
Segura-o forte.
"Eu que já fui, Madiro
Porque posso falar isso com meus próprios órgãos.
Eu que já fui, Madiro.
Fui menino e cá estou, maior e bem vivido
Sente, Madiro. Sente o tom da minha voz
O toque da viola, sente meu cheiro desagradável.
Vê? Eu que fui, faço ser, serei por mim; assim é cada um.
Sigo dos meus impulsos e tropeços.
Se necessário, freio. Inerente deste livro..."
Balança suas folhas pelo vento seco daquelas terras e o guarda.
Tinha Carmelo os seus poderes, isso é fato
Mas Madiro já vinha de incertezas, aquelas vagas, porém bem expressas, palavras
Fizeram-no notar que já era muito tarde para um monge
Guiou o músico para um quarto no fundo e foi para o seu próprio.
Naquela a imensidão incontida de suas conjecturas esqueceu de rezar, não de Deus
E mastigou todas aquelas colocações; até que adormeceu.
Quando acordou, expulsou o músico sem alimento ou água
Logo tratando em ficar como estava.
Para ele Deus existia e punha seus objetos em dia, seu estomago funcionava
E assim sempre seria.
Luiz Victor
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Ler: ACORDO.
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