'Oh que rumores vagos!
Tó jamais caiu! Muito menos por minhas mãos. Eu juro.
Não conseguiria detalhar o quão bondoso é aquele Deus.
Pobre Tó! Eu te juro, Pai! Deuses têm corpos?
Se os têm, que procuremos! Tó jamais caiu!
Por acaso tenho sangue de Deus em mim resvalado?
Tó! Tó! Depressa, Pai, também grite!
Tó! Tó! Se tivesse asas, buscaria nos céus.'
Surgiram Asas.
'Tó! Tó! Alto! Muito Alto! Segure-se, Pai.
Tó! Tó! Se tivesse olhos de águia, perseguiria seu rastro'
Seus Olhos cresceram.
'Tó! Olha que vejo tudo! Tó!
Tó! Me faltam ainda outras cabeças para que grite como cem'
Seu corpo avolumou-se e brotaram 99 Cabeças.
'TÓ! TÓ! TÓ! TÓ...'
O chiado infernal de cem gargantas
Explodiu de imediato a cabeça do Pai:
O quase domador daquela fera.
O corpo caiu decapitado pelos ares
A se terminar em um vasto Rio.
A besta alada quando isso notou, parou de gritar
E desceu a sua grandeza para o Rio.
Segurou o corpo e todas as cabeças choraram pó
O Rio imenso, foi se alastrando
Transbordou nos juncos, quase cobriu a besta
Apenas todas aquelas cabeças que não afundaram.
O pó fez o Rio crescer e ficar dourado
Pois ali, naquelas àguas, era domínio de um demônio
Toda a tristeza que ali pairava era bem-vinda.
'TÓ! TÓ! TÓ! TÓ!'
E desta vez não foi inútil pois o grito era de um nescessitado
Um estampido nos ares, uma forma escura descendo soberana
Uma névoa pontilhada por olhos castanhos.
'TÓ...'
Era uma massa tão grande que pra cada Cabeça da besta mil olhos estavam direcionados. Implacável como tem de ser um Deus, vendo a teimosia da besta, o gasto de poder em Asas, Olhos, Cabeças, a dúvida do caráter da fera, Tó lançou raios de todas as brechas do que era, névoa de olhares, naquelas 99 cabeças salientes.
Estas caíram uma a uma no Rio.
Nisto, as águas foram secando, as Asas e os Olhos da besta caíram
A névoa desfez-se, os olhos sumiram, o homem voltou a ser homem
E passou a dormir encolhido naquele vale seco
Ao lado de uma outra criatura lilás humanóide que agora também dormia
Esta que era um demônio, o dono do Rio.
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