segunda-feira, 15 de setembro de 2008

DIÁLOGO DUMA PASSAGEM

"Que passa, menino?
Olha cá! Pode dizer, sou todo ouvidos..."
"Hoje acordei pensando alto, senhor
Pensando em nunca mais comer, beber
Cheirar, sentir, tocar.
Despreocupado em ter que me lavar
Negligente em ato de ajudar.
Foi tão claro, tão óbvio; eu dormi...
Sonhava que sonhava sonhos maiores
Sonhava que sonhava em ser Deus
Daí acordei e vi que não era mesmo eu
E fiquei triste por não o ser, por nem tentar
Voltei a dormir e novamente sonhei...
Sonhava que sonhava sonhos tristes
Sonhava que sonhava em ser mais um
Outra vez acordei e vi que não era um sonho
Desta vez constatei que era mesmo eu
E me faltou ar, nada parecia no lugar
As cores me fugiam, a beleza me escapava
Tato não respondia.
Resolvi outra vez tentar sonhar
Uma chance a sorte deixada pra lá
Pálpebras não fechavam, e não mais o fariam...
Nessa hora os galos já começavam o seu canto
Na varande me juntei, assustado, à outros sons
Que já não valem para mim como antes valiam.
Como meus olhos não se fecham
E em vida não o farão
Perpetuar esse atraso em conhecimento de minh´alma é que não vou.
Desculpe senhor, almejo pensamentos dos mais belos
Não me contento com a pobreza do real.
É por isso que hoje agilizo meu processo
Meus olhos vão fechar, irei sonhar
Irei ser Deus, de tronos gozar
Soberano o meu eu, senhor
Te convido a entrar..."
Hipnotizado por uma lábia recém despertada
E pela certeza que pregava o mulato,
Foram-se senhor e seu criado
Mãos dadas, seguindo para o barranco
De onde voaram sem retorno
Prum mundo concreto, felizes, sem choro.

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