quinta-feira, 31 de julho de 2008

ERVA

"Busca aquela erva, Primo, vai!"
Era um ardor tão intenso que contagiava o ambiente.
Deitado, um homem disforme ardia.
Ao seu lado, outra face em desespero que fizera o pedido.
E já saindo, Primo.
"Corre, Primo, me traga aquela erva!"
Deixar o casebre nunca fora tão prazeroso.
Corria, fingia, corria, aqui e lá, pulava feliz.
"Antes lindo do que cruel é meu amor...
Isso nao o isenta da crueldade.
Porém, o primeiro é maior!"
Pensava enquanto o mato começava a ficar denso.
Escoltado pelo farfalhar das folhas,
Pelos piados e chiados de criaturas que não conheciam amor,
Ajoelha-se.
Como eram parecidas aquelas ervas!
Flores de mesma tonalidade, de mesmo cálice.
O curioso é que uma curava e a outra matava.
E curar, sarar, reviver, sanar... Não interessava o rudimentar alquimista.
Ele queria aquela que tira a vida,
Aquela que compartilhava dos seus desejos...
Colhe-a.
Outra corrida feliz de volta à casa, sem nenhuma hesitação
Sem receios.
O homem ainda ardia, que morresse.
Sua amada esperava com água fervente, que tudo logo acabasse.
Ele lhe dá a erva e senta-se, que não risse.
Nem era tão bela assim sua amada.
Agora ali a mexer um chá que mataria seu fardo,
Suas mãos reluziam verdes com a mistura,
E o amor de Primo sempre a aumentar...
"Toma! Vais ficar melhor, não é Primo?", olhando para trás com um

sorriso amarelado.
Por um instante, veio arrependimento
"Vai sim...", era apenas impressão.
O doente toma da bebida... Sua expressão muda
Depois de segundos, muda novamente
E logo após, sua pele escurece e seus olhos fecham-se.
A mulher cai por cima do corpo, chorando
Primo solta uma gargalhada.
Percebendo o que ocorrera a mulher olha do chá de erva para Primo
De Primo para o chá da erva... E trêmula, beberica da mistura.
"Não! Não faz isso! Fiz isso por nós..."
Ela se vai.
A tristeza indescritível de Primo
Seu coração, nulo, sem peso, sem amor
E as possibilidades poucas de pensar,
Fazem com que ele mesmo prove com um último gole,
Deitado entre quem já havia amado e odiado
Como entre duas plantas, uma que queria e outra que queria morta
Mas agora de nada valiam pois uma erva-daninha nascera entre os dois
E entendia que ele mesmo era esta erva,
Que matou as outras maiores, mais vistosas
E no seu ciclo, agora seca, sem água. Morre, sem nada.

Luiz Victor 30/07/08

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