"São duas moedas, Macedo.
Apenas duas míseras moedas que te imploro.
Pedaços de metal para tu desprezíveis.
À mim, necessárias. E muito.
A criança morre, Macedo.
É fome que separa todas essas terras e também os muros.
O constante tilintar de um lado,
É abafado pelos gritos do outro.
Lamentos, precisamente.
Ah, Macedo, se mereço!
Quando o primeiro raio toca o chão de pedras
Já estou de pé, para a roça me vou.
E são horas várias de labuta
Debaixo de mais raios, e quando desaparecem é hora da saída.
Quanto a tu, Macedo, mereces?
Digo que não e o porquê sucede:
Acorda e come, vai para a capela se esconder do que é real
Pela tarde aplica as taxas à nós, escravos da cruz e da coroa
Aperta nossas gargantas e nos joga na parede.
E isto não dura mais do que refrescantes horas sentado,
A escrever os dados, os números, nossa sentença.
Ah, Macedo! O que diria mamãe?
Hoje com duas crias tão distintas e distantes
Tão separadas; são os muros. E não apenas eles.
Tua insensatez e hipocrisia nos desune...
Mas não importa, Macedo...
Desejo apenas duas míseras moedas.
Dá-me, irmão, o que te peço. Duas moedas..."
Com um gesto de mãos engorduradas
O gordo homem, com um riso mudo, abre a bolsa, começa a procurar.
E acha. Duas moedas amarelas, igualmente engorduradas.
Joga-as. O magro homem se abaixa, apanha-as.
Vira e começa a seguir para o portão, voltava para casa...
" E vai de graça, irmão?
Tem preço para tudo, não será diferente.
O gordo aqui, por mais que diga, é humano
E como humano, pecador, falho.
E continuo na falha. Persistir nela é meu direito.
Pois com muito esforço, comprei meu posto no divino
Minha cadeira, meu lugar. Está lá, guardado, reservado.
Quanto ao preço, pedinte miserável, estipulo meu prazer.
Tua mulher eu quero, como escrava, meu cão
Que seja menos que isso."
Pára de andar, volta a face.
"O que tu pedes, Macedo, me abala
Toma tuas moedas e delas faça bom proveito
E irei delvovê-las e fazer com que entendas
E também que reflita sobre os ensinamentos de nossa mãe
E que poupe-nos da sua vida miserável..."
Ao término da fala, já estava por cima.
Já esganava. Já o matava.
O fez.
E o destino do pedinte e dos seus, já entendia
Os guardas já vinham por trás e o sol se punha,
Macedo, no céu, regojiza do que comprara
Pedinte ao inferno se danara.
Luiz Victor 25/06/08
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