"É pena, Velho.
O venerado gado já não corre,
As moscas já nos deixaram,
O sol castiga e já aparenta duplicar força.
Pena, Velho..."
Face escura, aleijado era só risos...
"Siô, na mais triste e magra terra já vivi
E foi lá que membros eu perdi.
Poderia ser tão ruim assim?
Um Velho o diz que não, Siô o diz que sim.
Mas na mais triste e magra terra já vivi...
Terra de esqueletos de gado,
Terra de gente inexistente,
Onde tudo que há é terra, onde nada que mexe é gente.
É pra lá de rio, é pra lá de água, é pra lá de mente...."
"Bobeira, Velho. Me conta....
Qual razão de não ter membros?"
"Siô, Velho não mente!
Foi algo chamado deste lado.
Ou destilado... Sou isento de culpa.
Fato é que depois de consumido saí de casa,
Deixando mulher, filho e algumas três moedas.
Risível. Mas tal qual é a vida, Siô.
Foi pra nunca mais voltar.
A noite, clara, fez da viagem sem matéria
(Talvez um cascalho, ou um vestígio de poeira... coisa pequena, sem valor)
Algo maior do que o trôpego viajante e pouco menor que a errada estranha sede do mesmo.
Fez-se acontecer após um baque surdo e uma garrafa que rolava.
E a Lua castigou o caminhar do intelecto, queimando como Sol queima.
Ardendo. Como só o Sol arde. E apenas Sol o faria.
Mas, Siô, era uma caminhada sem matéria, já foi dito
Fechava o dia em vários tempos e tempos de vários dias.
Começava tudo na mais triste e magra terra.
Lá vivi.
Sentia a letargia conhecida pela Química
E o tremor me tomava, por vezes
E era quando a terra se levantava em tempestade
E era quando seus rios nauseantes por dentro de mim corriam
Era quando transbordavam em insatisfação e desespero...
Quando era, Siô, o cessar da corrente?
Era quando a nascente já não tinha mecânica externa para estar em posição.
E aí era noite. Noite escura, de passos, rastejos bem marcados.
De conflitos entre terras, moradores que só desejam novamente luz do dia.
E ela chega. Pra novas tempestades e noite.
Na sequência, dia.
E o cliclo perpetua, cliclo imposto pela vontade.
Pela falta desta, na verdade.
Passava rápido o tempo, terra mudava.
Mais negra, sombria. Mudada, murcha.
Qual exterior estava.
Descuido que fez de vilã, não minha própria idiotice
Mas algo bem pequeno que os mals contatos transmitiam.
Chegara a um velho doente. Doença séria.
Dia, olho membro que não mais me servia.
Noite, outro cai em função de putrefata circulação
Dia, cai uma base e o chão me abraçava.
Noite, vai o último em inútil espasmo.
Gritei. No grito, veio resgate. Membros que me erguiam.
Membros que me tocavam.
Quando acordei, já não estava na mais triste e magra terra
Deixara por lá meus membros e deste lado restou a vitória.
Digo destilado.
E o Siô ainda me perguntará, me antecipo
Foi minha vontade restabelecida?
Não, Siô. Não.
É apenas uma questão da mecânica que move a nascente,
Que agora não tenho, que para o vilão perdi.
Aleijado sem escolha, sem corrente."
Luiz Victor 23/05/08
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