terça-feira, 29 de novembro de 2011

EXERCÍCIO DO QUARTO DO SOM

Quase não tínhamos livros em casa

Minha jinela! Cajueiro, lá embaixo, tem voltas e mais voltas de arame eletrizado. Inda assim, vez por outra, um caju cai na calçada.

Pastoreiam-me com mesma diligência um santo encapuzado europeu e um preto velho sertanejo, cachimbeiro e tudo.

Por símbolo eu tomo o café, que tal? Mande fazer uma estatueta deste grão preto!

Minha paixão há de brilhar na noite

Daí põe duas brechinhas de olho nela pra que lidere a trupe.

O santo tem meu respeito porque vai um pombo do seu lado; deve ser o santo dos pombos.

Teu sorriso

Já teve um cajado, agora é uma mão de barro furada. Meu preto inda tem sua foice, mas basta uma tiradela. Até quando?

Isso é coisa de dedo miúdo, vou dizendo.

Levanta Imburana

Vem bem que a matula de lenha na cabeça do sertanejo não dá pra tirar. Nem o jerimum que tanto abraça forte. Seria o seu descaráter.

Um tonho que modelou-se depois duma ralada de café numa caneca profunda, de dar eco. Poria o jerimum que traz no feijão daquele dia.

Luz de sol, janela aberta

Beleza é doce de caju! E gelado? Lá embaixo, tem quem apanhe qualquer do chão, dede um pouco a sujeira, viu se tem bicho?, morde e é bem mais gostoso que o doce mortificado da geladeira.

É gosto furtivo. Elétrico, que sabem o porquê: defendem o cajueiro com cercas. O caju adocica quando se espragata na calçada.

Tampouco turva-se a lágrima nordestina

Qualquer pálido que se considere, veja só, dono do cajueiro, se for de escalar cajueiros, vai é trincar os dentes. Tentará um doce, mas irá azedar. Tentará um suco, mas irá travar.

Meu preto, depois de fartar-se em jerimum com feijão, se largaria nas redondezas onde a eletricidade inda não reina, treparia num cajueiro dezembreiro e seria ali um favo. Contudo, pra eternidade, vai com o jerimum pra casa e a matula de lenha na cabeça.

Cajueiro, dá-me a castanha

Belo de café preto!

Repensar o posto do santo; tirá-lo e deixar só o pombo.

Olha os forro ramiado vai chover

Minha jinela! Uma ventania equiparada a três ou quatro ridimunhos! Embola os papéis que não uso.

Elegância nos papéis, e haja. Bom é ter um livro e chamar de seu; bom é escrever um livro! Seja destro.

Derna o tempo de menino fazia por brincadeira

As prateleiras do quarto do som se esvaziaram. Muito peso de livro ido. Faltam outros pra ir.

As estantes de saber, que sempre pensava instantâneos, bem não são, esperam os meus livros? E se aguentam um outro adeus, um vindouro?

Você provocou tempestades solares no meu coração

Os livros de páginas marroms. Os pequenos resolutivos. Os uniformes inexpressivos. Os capatraentes, porém vazios. As revistas masculinas.

Os ridimunhos só não deslocam as estantes por causo dos pregos. Se tiro, lá vão elas pela janela...

Ânsias, amores e alucinações

Das caixas, poses, sorrisos, invento qualquer estória, pois qual o santo, qual o preto, qual o cajueiro lá embaixo enquadrado, qual as estantes, qual o quarto do som, do que é parado eu espero um passado e presumo um futuro.

Ou lançá-los pra fora das janelas.

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