segunda-feira, 14 de março de 2011

PIBA, O MENINO-LOBO

Tirar apojo das teta duma loba arisca
Mamar, se arrisca a vida no bojo
Dos alentos de menino-lobo
Habitante da greta tropical
Peludo e úmido: animal.

De chapéu couro vem visitante
Cientificamente brilhante
Captura-o pro laboratório sociedade
Apresenta-o na Academia
Quis dar-lhe uma olhada o padre
Sai no jornal escrito, falado e visível
Pra toda comunidade.

Testam suas aptidões exaustivamente!
Condicionar qual que é
Um aparato psico-tortura
Dura dois, quatro, seis meses!
"Piba!", foi o único som que soltou
Antes de falecer, mártir da cultura.

Na mata, quando podia, queria
Quando queria, podia.
Os calhordas lhe deram deveres:
"Este suspensório tem de ser posto,
Os panos vão por aqui,
Hora do banho,
Colher garfo, talher,
Tens uma linguagem para aprender."

E teve a vez dos nãos:
" Nada de andar acocorado,
Não de boca aberta,
Não de subir nas árvores
Não, Piba!"

Que culminaram nos senões:
" Não belisca os traseuntes, senão nada de comida,
Não arranha os móveis, senão sem passeios,
Não deda a lama, senão te estapeio!
Não me enforca, Piba, senão vai cativo!"
Essa última não adiantou e foi derradeira
Já fora muito fácil matar no dedo um preá
Quiçá um javali selvagem,
Avalie um poltrão da Universidade.

Quando a polícia chegou
Piba jazia morto e nu ao lado do corpo.
Mais tarde revelaram que havia engasgado
Com um botão laminado de seu suspensório;
Realizara, desajeito, o ato de rasgar a roupa
E a janela já estava aberta com vista na mata...

Resta onisciência pra lamentar seus lamentos
Pois os símbolos de aqui lá não haviam.
A pelugem da loba, a folhagem das copas,
Não dever-ser, primevo ser vivo
Das falanges articuladas de quadrúpede
Que não veio social nem se fez
Na matilha institucional, em toda a hipocrisia do globo
Preferia, em vida, ser sempre Piba, o menino-lobo.

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