domingo, 23 de janeiro de 2011

HORROR EM ANAUÁ DO SUL

Se estouram rastros de boiadas antigas
Raspam seus cascos impressos na terra
Conluio de boiadeiros etéreos
Enganam quem chega no vale fantasma.

Ali, uma cidade. Ninguém por ver
Se viu, mentiu, que são almas desencorpadas
À encobrir caveiras e qualquer sinal
Das dezoito famílias ali finadas.

Eram Henriques, Otavianos, Rochas, Rosas, Oliveiras, Rodrigueses
Estrelas, Mourões
Andrades, Nogueiras, Antuneses, Uchôas, Almeidas
Di lascios, Onofres
Serrões, Ubiratãs e Leões.

Começo da contenda foi o número de boi.
Se misturavam nas pastagem muito próxima
Um Henrique reclamou várias cabeça malograda
Otavianos, ressentidos, cortaram relações
Dois Rochas, refugos de boataria, tangeram alguns perdidos pro curral
O prefeito Rosa declarou que em Anaúa do Sul não tinha vez pra malandrice
Oliveiras recolheram todo o gado do pasto
E uma anciã Rodrigues, safa na feitiçaria, macumbou toda a vida da cidade.
Daí o gado começou a mudar, horror só.

Veterinário Estrela viu os olho de bila inflamado dos bovino
"Agressividade sobrenatural e leite azedo", relatou seu Mourão.

Não fosse o velho Andrade notar um acontecimento, diriam ser doença de animal;
A menina Nogueira, loira e pequeninha, foi estripada no pasto por um touro feroz.
Deram o touro como dos Antunes, vizinhos de cerca; foi contenda e horror.
Uchôas penavam em prender seus gados, sacrificavam os mais ariscos
E os Almeidas desconfiavam de todas as outras famílias.
Daí o gado começou a mudar, horror em Anauá.

Um Di lascio escritor produziu um manual de como apascentar o gado corretamente
"Viraram demônio esses boi", mulato Onofre sangrado de chifre.

Serrões, donos maiores das boiadas, não gostaram do livreto, era chinfrim
Os bicho não melhorava, ficavam mais negro e cadavérico, ferozes.
Ubiratã tentou uma mandinga com a mãe Natureza e tudo piorou;
Baixou uma secura na cidade, todo o pasto murchou
Um negro no céu e loucura das besta nos curral.
Quando fugidas das amarra, reuniram-se no topo do Vale
E caíram varrendo as família, começando pelos Leões.
Daí o gado matou um por um, horror em Anauá do Sul.

É por essa que todos os dias na cidade decaída
Numa determinada hora da noite em que, religiosamente, descem do Vale os bois
Todo o povo fantasmagórico de Anauá do Sul varre com os dedos transparentes
Unidos na morte e na agonia, os rastros pisados das boiadas antigas.

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