terça-feira, 10 de março de 2009

Da nação, danação!

As lucrativas e chorosas e choradas guerras! Falo destes formidáveis congressos internacionais onde se morre e se mata; destas reuniões esporádicas de profissionais da mesma área, dos soldados, supostamente reunidos e fortificados em um ideal, pelo amor à pátria. Nação! Nação! Da nação, danação! Que é o conjunto se todos estão a dizer quão importante essa valorização é? Mesmo sem possuí-la, choram e gritam o quanto uma demarcação de terras e agrupamento de diversos grupos é vital, digna e necessitada de sacrifícios. Gargalhei alto quando me foi contada a história que sucede, amigo.

Era ainda tempo de guerra com armas brancas, flechas... Eis a figura mais miserável destes embates: o triste do soldado que ostentava estandartes. Tal não tinha nem espada ou faca, sua roupa leve. Passeava apreensivo por entre as respirações marcadas daquela massa armada. Crê que era dali o mais belo! O preferido à carregar tais instrumentos, pois sua mão era muito fina para o punho de muitas daquelas armas pesadas, seu corpo bastante delgado para armaduras. Aliás, a bandeira que portava era dum colorido que impelia respeitosos sorrisos dos habitantes daquelas terras. Bruxuleava, surrando o vento, presa num longo metal oco. Quando passava tropeçando, urravam em línguas antigas várias saudações suicidas decoradas. Pensou ser muito útil ao grupo. Sagaz homem, sim? Nada. Romperam gritos, alguém engasgou o nome do país bem alto, todos os soldados iniciaram a corrida, gritando, correndo, caindo, levantando, correndo... Eram tantos. O dono do pano também corria, gritava, caia, levantava, corria. Quando terminou seu ciclo e continuou seus passos, ainda empunhando a bandeira estendida surrada de vento, olhou para os lados e viu lâminas e mais lâminas. Olhou para a sua bandeira, daí para as lâminas. Bandeira; lâminas. Sagaz homem, não? Questão de ponto de vista. Não poderia mais voltar, seguia empurrado, pois empacara com as suas constatações. As duas sombras que cobriam os campos finalmente chocaram-se. Os urros de morte acabaram por ruborizar ainda mais o ódio patriótico do dono do pano, e ele ainda não soltara a bandeira. De repente não sentia mais os repiques no metal - o colorido havia desaparecido, enrolara-se no metal oco. Como que desfeito dos recentes pensamentos, moveu e moveu a haste para que o pano voltasse a brilhar. Não percebeu quando as primeiras fileiras do exército foram derrubadas, nem a proximidade do mais insano dos soldados. Aqui, o cômico: quando tentava sem sucesso fazer com que regressasse a extensão de seu tecido, movimentando o metal como equilibristas equilibram pratos, exausto, bem exausto, suando sua inutilidade patriótica, não esquivou-se da s lâminas inimigas, morreu inútil, ressarcido pelo gosto de ferro e sangue de mãos alheias. A guerra continuou sem a bandeira, como era de se esperar...

Soldados, meu caro, são os mais desvairados dos trabalhadores porque o seu patrão não vive, é imaginado. Suas metas não são compartilhadas, dependem do patrão. Seu esforço é meta do patrão! Heróis não existem porque são disfarces, sandice. Vá crer que falo isso porque sou presidiário! Vá crer que falo isso porque bebo rum todos os dias! Porém quando olhares o sangue que espremem das bandeiras dos países, lembra do soldado e lembra também de mim. Há muito quis ser eu também um deles.Era esbelto e bonito. Sem dúvidas carregaria as hastes. Soube da história que te contei, agrupei-me ao rum e ao tal de um manifesto. Anarquia, anarquia!, gritava embriagado. As nações eram minhas inimigas e eu seria o soldado de mim mesmo. Perdi. Falo baixo para não alertar os torturadores; rasgam aos poucos minha carne, antes fosse eu o dono do pano. Um golpe e o consolo da morte. Soldados decompostos! Esgotei meus pontos de vista... Pergunto novamente: Sagaz o cômico da bandeira? Absolutamente, um gênio!

Danar-se-ão as nações! Os mais astutos saberão como tratá-las, pois ao invés de revolta receberão uma adesão disfarçada e os soldados não mais usarão armas, todos portarão bandeiras. Só assim não morrem, só assim não correm, nem gritam, nem caem, nem levantam. Irão jantar de prato principal os seus patrões!

Amigo, agora corre. Já chegam os torturadores. Agradeço o rum, seus ouvidos... Volta para teu posto, soldado. Recorda minha figura atormentada no dia em que o vento surrar as cem milhões de bandeiras! Adeus, que é certo; de hoje é adeus.

3 comentários:

Unknown disse...

muito massa ;D

Anônimo disse...

Sagaz homem!

~ L disse...

Hey. =D
O Stefano me passou o seu blog, ele falou que você escrevia também. Eu sou a guria chata que conversou brevemente contigo no telefone enquanto ele conversava *rindo loucamente*.
Mas... Seus textos são ótimos! Esse em particular eu li várias vezes. Gostei. =)